O que é um laboratório de inovação?
Para além de trabalhar pela nossa instituição, trabalhamos pelas pessoas que a ela dão vida.
Por: Pedro Felipe de Oliveira Santos, Coordenador Científico do Laboratório de Inovação do TRF-6
Quando começamos a discutir ideias sobre a identidade visual deste novo site do iluMinas, imediatamente nos questionamos sobre a identidade institucional do nosso laboratório de inovação. Como transportar com exatidão para um ecossistema virtual os valores que compõem a nossa missão? Responder essa pergunta demandava uma outra reflexão, que lhe era logicamente anterior: que missão é essa, afinal? O que faz um laboratório de inovação?
Em um tribunal, o laboratório de inovação é o ponto focal de acolhimento e de compartilhamento de ideias daquela comunidade. Não se trata apenas de um espaço físico onde planejamos e executamos projetos institucionais. Quem pensa assim esquece um componente essencial, por vezes sutil, que sublinha a missão de um laboratório: existimos pelas pessoas e para as pessoas que dão vida ao Tribunal. Se as nossas inovações não melhoram o bem-estar dos servidores, dos juízes, dos colaboradores e dos jurisdicionados—se os nossos projetos não lhes proporcionam instrumentos que tornam as suas funções mais eficientes, intuitivas e confortáveis—o laboratório não cumpre o seu papel. Não são metas cumpridas ou premiações vencidas que definem um laboratório, mas decerto a sua capacidade de impactar positivamente nos processos de trabalho e na qualidade de vida da comunidade.
Na busca desse objetivo, três verbos traduzem os nossos principais valores.
O primeiro verbo é prospectar. É nosso papel sair do nosso espaço físico para conhecer onde nascem as boas práticas, tanto na atividade meio como na atividade fim. As melhores inovações institucionais não nascem apenas dentro do laboratório, mas nas secretarias das varas, nos balcões de atendimento, nas centrais de perícia, nas mesas de conciliação, nos gabinetes das assessorias. A inovação nasce a partir das experiências diárias da abnegada comunidade, que precisa aprender a fazer muito com recursos limitados—e, muitas vezes, doando de si muito mais do que a instituição pode lhe exigir. Não há melhor incentivo à inovação do que a necessidade de produzir muito em um contexto de escassez de recursos, aliada a uma dose de ousadia—a vontade de ‘fazer melhor’. Conscientes dessas circunstâncias, nós—laboratoristas—estamos o tempo inteiro de olhos abertos e ouvidos atentos. Em um trabalho quase que pastoral, queremos ir ao encontro das pessoas que sabem fazer a diferença e criam o “novo” para tornar o Poder Judiciário mais digno.
Nessa toada, o segundo verbo é acolher. Como o laboratório pode contribuir com essas boas iniciativas que encontramos em nossas andanças? Como profissionalizar e maximizar boas práticas que oferecem resultados satisfatórios no contexto local? Como colaborar com equipes angustiadas que apresentam desafios de gestão ou de tecnologia? Para lidar com essas questões, adotamos uma equação: acolher sem usurpar. O laboratório prospecta desafios e práticas, acolhe equipes e, em seguida, propõe instrumentos e metodologias que lhes auxiliam a idear, a estruturar e a testar suas próprias soluções—garantindo que elas estejam sempre respaldadas na ciência de dados, no controle de riscos e em objetivos firmes e concretos.
Essas tarefas preliminares levam ao terceiro verbo: compartilhar. Enxergamos o laboratório como uma plataforma de interação e de multiplicação. Juízes e servidores exercem as mesmas competências institucionais em diversas localidades e enfrentam problemas muito similares na maior parte do tempo. Se todos integram uma mesma instituição, precisam andar sob o mesmo passo. Por isso mesmo, as boas práticas locais devem inspirar o global. Esta é a receita para se construir a cultura organizacional de uma instituição: semear as mesmas boas sementes em diversos locais, construindo um saber-fazer compartilhado, o qual, por sua vez, constituirá o conhecimento coletivo da organização. O laboratório estimula a colaboração, a interação, a troca de ideias e a construção conjunta de soluções, sempre envolvendo os atores que participarão direta e indiretamente da execução de cada projeto. Afinal, não há fator que gere maior senso de responsabilidade pelo êxito de uma iniciativa do que o sentimento de ter participado—e de ter sido ouvido—no processo de sua formulação original.
Sabemos que os protagonistas da conjugação desses três verbos são pessoas—e não apenas ideias. Não por acaso, adotamos recorrentemente em nossos textos a expressão “comunidade do TRF-6”. Somos um único grupo; estamos conectados pela mesma amálgama. Convivemos por um só propósito, na certeza de que as instituições não são normas, regulamentos ou projetos. As instituições são as pessoas, as suas ideias e as suas práticas. Na riqueza da diversidade de competências e de talentos, cada um de nós contribui com alguns tijolos para edificar e eternizar o TRF-6.
Para esse mister, a inovação não pode funcionar como um fim em si mesmo. A inovação é muito mais do que uma metodologia ou um processo de estruturação de pensamento. A inovação existe pelas pessoas e para as pessoas. Este é o lado humano de um laboratório: em meio a tantas e tão importantes novas tecnologias–dos sistemas processuais à inteligência artificial, do design thinking à gestão de projetos–o trabalho somente tem valor institucional se as ideias que construímos e testamos no iluMinas alcançam e resolvem os desafios dos magistrados, dos servidores e dos jurisdicionados, de uma ponta a outra de Minas Gerais.
Imbuídos desse senso de dever, temos implementado diversas iniciativas nos últimos meses, desde as mais simples, como os cards quinzenais do iluMinas Informação e as novas metodologias de interação das oficinas abertas da Série Colaborações, até as iniciativas mais sofisticadas, como a Prompteca, o Assistente Virtual de IA e os aplicativos/chatbots de atendimento do projeto Pop-Rua. Para cada uma dessas soluções, não perguntamos apenas qual inovação estamos criando. Acima de qualquer outro ponto, questionamos se os servidores e os juízes das mais distantes subseções judiciárias—às vezes se sentindo tão pessoalmente desconectados das demais subseções e do Tribunal—percebem-se acolhidos e contemplados pelo trabalho do Laboratório.
Por isso mesmo, ao escolher o banner de título da página principal do nosso site, decidimos fugir do lugar-comum. Imagens de redes neurais, fluxos de pensamento, assistentes de inteligência ou outros lugares comuns relacionados às tecnologias e às metodologias jamais retratariam os nossos valores em sua integralidade. Não titubeamos. Retratamos rostos—rostos comuns, rostos reais, de pessoas que poderiam ser qualquer um de nós. Afinal, como laboratório, essa humanidade é a nossa cara. Eis a nossa missão, eis a nossa verdadeira identidade.
Para citar esta fonte, utilize a referência DE OLIVEIRA SANTOS, Pedro Felipe. O que é um laboratório de inovação? (Ideias em Movimento, Belo Horizonte, Publicado em 08.07.2025).
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